terça-feira, 5 de abril de 2011

O Lobo e uma Segunda Chance

Seu pelo longo balançava ao vento. Ele era cinza, em alguns pontos mais branco, em outros mais negro. Os olhos azuis brilhavam quase transparentes, e os dentes afiados e brancos como a neve ao redor estavam à mostra. As orelhas da fera estavam alertas, e sua posição ereta impunha uma superioridade cruel e totalitária.
Ele estava tão perto de ser o vilão quanto o mocinho da história. Apesar das presas sedentas de sangue, seus olhos carregavam algo como bondade.
A garotinha sabia que estava perdida.
Sentada ali, no chão frio e coberto de neve, ela fitava o lobo que estava sobre a pedra à sua frente. Ela não sabia exatamente o que a levara ali, só conseguia se lembrar que não queria mais voltar, e provavelmente ela não voltaria, mesmo se quisesse.

Por que ele está demorando tanto? Ela se perguntou.

Será que aquilo era dúvida? Ou será que era ela que estava percebendo as coisas em câmera lenta?
Ela se forçou a lembrar de antes... de sua vida na cidade, em sua casa. Ela não gostava de seu pai chegando tarde em casa e sempre reclamando de como as coisas estavam. Ela não gostava de sua mãe com o olhar cansado e frio como se sempre que a olhassem a acusassem por ter nascido.
E por isso ela tinha fugido.
Mas ela se perdeu na floresta, e no frio, e na fome. E agora estava pronta para aceitar seu destino de garota mal criada.
O bicho a encarava de cima da rocha.

Vamos logo com isso! Ela gritou impaciente. Acabe logo comigo.

Mas a fera não avançou. Aqueles olhos azuis a olharam ainda mais profundamente, e de repente ele relaxou os maxilares.
Uma brisa soprou pela floresta.
O lobo olhou para a lua que era revelada pela nuvem que até então a estava cobrindo e então ele uivou. Alguns momentos de silêncio se passaram e então a garota ouviu uivos em resposta, e depois ouvir algo parecido com uma corrida na neve.
Ela virou a cabeça em direção ao som e então se deparou com cinco pequenos lobinhos que correram e subiram a pedra para encontrar o lobo maior. Ou seria a mãe loba?
Os olhos azuis voltaram a encarar a garota, mas agora eram seis pares de olhos. Em seguida, o lobo maior deu meia volta e desapareceu em meio às sombras das árvores, sendo seguido pelos cinco filhotes.
A garota olhou para o céu. para a lua e para as estrelas e sentiu a brisa da noite banhá-la.
Ele a havia deixado. A havia deixado viver.


O que fazer agora?


Ela pensou em tudo o que havia acontecido desde que fugiu de casa, e pensou em sua vida antes de fazê-lo. E foi assim que tomou sua decisão.
Respirando fundo, ela tomou forças para se levantar e voltar por onde tinha vindo.


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