segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Caminhos

Havia uma bifurcação, e ela não sabia que caminho tomar.
Em cada uma das bifurcações havia um homem, ambos idênticos em traços e vestimentas. Ela se dirigiu a eles e perguntou.
- Para onde levam esses caminhos?
Eles se entreolharam.
- Este para o lago - disse um.
- Este para o lago - disse o outro indicando a outra trilha.
- Mas como podem dois caminhos diferentes levar ao mesmo lugar? - ela perguntou confusa.
Os dois se olharam novamente.
- Ele só diz a mentira, e sou eu quem diz a verdade.
- Não, pelo contrário, sou eu que digo a verdade, e ele que mente.

Apenas uma coisa ela podia afirmar: um deles estava mentindo, e o outro dizia a verdade.

E ambos sorriam, um sorriso branco e brilhante, que parecia ter luz própria.

- Mas quem fala a verdade? - ela perguntou desesperada.
- Eu - responderam os dois em unissono.



Ela levou as mãos à cabeça, não sabia o que pensar daquilo.
Mas pensou melhor. Para onde estava indo mesmo? O que pretendia fazer? E se deu conta de que não importava. Não sabia o que queria, não sabia o que fazer.
Não sabia que caminho seguir.
Apontou uma das trilhas.

- É essa que leva para o lago?
- Sim.
- Não.

Apontou a outra.

- E essa leva para onde?
- Para o lago.
- Para a floresta.

Agora sabia mais uma coisa: uma levava para o lago, e a outra para a floresta.
Qual era qual ela não sabia.

E no fundo não fazia diferença.

De repente, ela se lembrou de algo. Uma estranha sensação de que há muito tempo atrás alguém havia lhe contado um enigma. E então ela se lembrou da resposta. Uma resposta que poderia servir muito bem agora.
Ela sorriu e deu um passou em direção aos homens.
Perguntou a ambos:

- Se eu perguntasse ao seu irmão qual dos caminhos é o melhor, o que ele diria?

O imenso sorriso desapareceu dos rostos esnobes. Ao mesmo tempo, os dois levantaram uma das mãos para indicar uma das trilhas.

- Aquele.

Alegre, a menina seguiu pelo outro. Não sabia se a levaria ao lago ou à floresta, mas não importava. Ela não tinha para onde ir, só queria poder ir para algum lugar.
O que ela sabia era que havia algo a sua espera, e ela encararia qualquer coisa que estivesse por vir.

domingo, 18 de setembro de 2011

Realezas

Magníficas, poderosas
Levam o medo e o respeito por onde passam
São elas, somente elas
Seres serenos sinuosos

Sinceras, verdadeiras, reais.
Reais como fato
Reais como nobres

Aquele que se propõe a olhá-la de perto
Estica a cabeça, curioso
E ela estica a sua própria em resposta

E ficam ali, encarando-se
Ele admirado, assustado
Ela paciente, pronta para tudo


Nos iludem, nos hipnotizam com sua beleza
Sábias, cheias de astúcia
Um veneno capaz de curar
Um veneno capaz de matar

São elas, sempre elas
Donas do mundo
Ocultas pelas sombras
Discretas, incompreensíveis

Elas
As serpentes


sábado, 17 de setembro de 2011

Setembro

Ela estava acabada, sem forças para continuar. Lábios e dedos roxos, admirando um por do sol que parecia durar uma eternidade.
Lindo.
Trágico.
Majestoso.
Imponente, parecendo esmagá-la.
Deitada na grama, sob uma amoreira quase descarregada. Ela tinha se ocupado em colher o máximo possível durante toda aquela tarde. Ao lado dele, que dormia ao seu lado agora.
Setembro.
Que mês magnífico... mágico! O mês da primavera, das pitangas, das amoras, dos amores... E tudo tinha acontecido tão rápido, de repente.

"Olá, posso me sentar aqui?" uma pergunta estranha considerando que havia muito espaço ao redor daquele lago.
"Claro" ela respondeu mesmo assim.

E logo ficou evidente que eles tinham muito em comum. Uma conversa que puxava a outra... e o final de semana que devia ser apenas um descanso na casa de campo dos tios tinha se tornado o início de uma história maravilhosa.
Ela se virou para olhá-lo. Seu estado era lastimável, manchas roxas cobriam-no da ponta dos dedos até os cotovelos, e ele aparentemente tinha dormido sobre algumas frutinhas madura, pois a bochecha direita também estava manchada.
Ela riu. Eles pareciam duas crianças... correndo e brincando o dia inteiro, mal se aguentando em pé naquele fim de tarde.
Espreguiçou-se com dificuldade.

"Ei, hora de ir, está anoitecendo".

Ele abriu os olhos com dificuldade e se sentou. Bocejou e olhou-a com olhos cansados e carinhosos. Ela tinha-o conhecido ha menos de um mês e já sentia-se totalmente fisgada.

"Então acho que é melhor ir" ele sugeriu.

Eles se levantaram e se olharam. Ela passou a mão por sua bochecha, mas no fundo sabia que era inútil remover aquela mancha sem um pouco de água e sabão.
Os olhares se cruzaram e então eles não podiam mais desviar os olhos. Olhos profundos e verdadeiros, dos dois, investigando um ao outro tão intensamente que pareciam ser um só.
Os lábios se encontraram e eles se perderam, esquecendo-se que a noite caía.
Não importava o quanto ia durar.
Não importava se ia durar.
Não importava como seria o amanhã.
Nenhum deles queria saber se aquilo era um "felizes para sempre", desde que houvesse por enquanto um simples e sincero "felizes".