terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Lógica



Eu vi o sol girando em volta da terra

Eu vi a chuva caindo do chão diretamente no céu

Eu vi o fogo ressucitar as bruxas

Eu vi a água matar um camelo de sede

Eu vi um raio de luz dar meia volta quando percebeu que as curvas são mais emocionantes que as linhas retas

Eu sei de coisas das quais não se pode saber

Eu conheço pessoas que viveram antes de mim

Eu gosto daquilo que me desagrada

Eu imagino tudo sem pensar em nada

Eu falo de coisas que só saem da boca de um mudo

Eu escrevo aqui aquilo que deveria ficar guardado nos confins das associações lógicas

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Vivamos os sonhos e sonhemos a realidade

Tão boa é a vida...

Tão divertidas são as risadas...

Tão mágica é a realidade...

Mas muitas vezes preferimos os sonhos
Muitas vezes acordamos desejando voltar a dormir



Passamos a maior parte de nossas vidas imersos em pensamentos
Pensamentos estes que geralmente são desejos
Simulamos em nossas mentes aquilo que gostaríamos que fosse verdade
Mas que muito raramente pode ser

Gostamos da realidade apenas quando queremos
Quando tudo vai mal preferimos fugir


Mas fugir para onde?

Não importa o quanto a evitemos, o quanto a odiemos, o quanto queiramos mudá-la
Ela sempre estará lá
Ela sempre será o nosso lugar
Ela sempre estará a nossa espera como uma mãe a espera de um filho que fugiu de casa

Ela sempre será a nossa realidade

Uma árvore retorcida

Como seria a sua terra dos sonhos?


Seria uma grande ilha, uma ilha em meio a um lago de águas doces e límpidas
Seria coberto por campos floridos e florestas misteriosas
Seria repleto de animais silvestres com nada além de sua sinceridade

Seria tão verdadeiro
Tão simples
Tão puro

Não desejo nada além de uma árvore retorcida na margem de uma lagoa
Nada mais que uma casinha em uma clareira
Apenas a atmosfera de ternura bastaria

Por falar nisso...
Por que costumamos querer sempre mais?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Deus


Quem é você aí em cima?
Eu não posso te ver

Que diabos você está fazendo?
Por que não me responde?

Você deve estar a salvo e quente
Mas eu ainda estou aqui

No frio
Estou faminto

Quem é você aí brincando de ser Deus?
Você acha que tem o direito de fazer isso?

Me ajude, por favor!
Estou morrendo!

Mas você ainda está aí
Sem sequer mover um dedo

Tudo bem, então
Eu não posso fazer nada contra você

Que armas tem um rato contra um gato?
Bem, estou pronto, é o fim para mim

Mas você ainda está no topo
Você continua a salvo e quente para todo o sempre

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A pior praga da humanidade

Fujam, fujam todos!
A peste está vindo, é ela!

Os seres mais repugnantes que habitam este mundo
Os animais mais desgraçados que já foram criados

Saem dos esgotos e dos ralos do banheiro
Vêm pelos bueiros e pelos encanamentos
Se arrantando como uma praga que destrói tudo o que está em seu caminho

Não se importam com nada
São nojentos
Fedem a maldade

Mais que maus
São cruéis

E o pior de tudo:
Eles são nós

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ignorância

Vovó, o ser humano é ignorante?

Ignorante? Claro que não, meu bem. O ser humano já descobriu tantas coisas ao longo de sua existência, como poderia ser ignorante?

Mas... pense, vovó. Se formos ignorantes... como vamos saber se somos ou não ignorantes? Quero dizer... alguém ignorante é incapaz de se altoavaliar, certo?

Ela ficou arrebatada com aqueles argumentos. Seu neto era realmente uma criança de dez anos?

Bem, querido... acho que você pode estar certo.

Olhe: como vamos saber se somos ou não ignorantes se realmente fôssemos ignorantes? Porque se o ser humano fosse ignorante não saberia se é ou não ignorante.

Faz sentido. Mas se isso fosse verdade, como chegaríamos a uma conclusão?

Teríamos que perguntar a outros seres se somos ou não ignorantes.

E se esses outros seres também fossem ignorantes?

O garoto não soube o que dizer. A velha prosseguiu.

Sabe, meu anjo, se fôssemos tentar desvendar isso acabaríamos numa procura infinita de seres não ignorantes para nos avaliar, e se todos fossem ignorantes não chegaríamos a conclusão nenhuma no final.

Tem razão. Então... será que todos nós podemos ser ignorantes?

Ela olhou pela janela e viu o jardim todo coberto de neve. O dia fora realmente cansativo.

Querido, o que é a ignorância?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Penso, logo (não) existo

 

Estavam no quarto. A velha guardava algumas roupas no guarda roupas enquanto o sol descia preguiçosamente no céu de tarte de inverno.
Na mão do garoto, um pequeno livrinho que ele encontrara sobre filosofia. Estava lendo sobre Descartes.

Vovó, René Descartes tem uma frase um tanto estranha... “Penso, logo existo”. O que quer dizer?

Ela se lembrou sobre sua conversa pela manhã.

Descartes foi muito inteligente ao criar essa frase. Com ela, ele pretende explicar que para existir é preciso ter a capacidade de pensar e raciocinar. É preciso ter a razão.

Uma pausa se passa onde os dois admiram o cair da neve pela janela.
A velha prossegue:

Mas eu acho que ele estava errado.

Por quê?

Meu biscoitinho de gengibre, você acha que apenas a razão basta para existir?

Bem, se algo é capaz de pensar, é claro que ele existe.

Talvez sim. Então vou mudar a pergunta: você acha que apenas existir basta?

Como assim?

Meu biscoitinho de gengibre, não basta pensar, não basta apenas existir.

Então o de que mais precisamos?

Precisamos viver, e para viver é preciso agir.



Nem sempre os gênios são tão gênios assim

Hitler era incrível, não era?



Muitos poderiam ver essa frase como uma blasfêmia ou como palavras de um psicopata.
Mas aquela frase não era nada além da verdade.
Hitler fora incrível afinal. Um verdadeiro gênio, uma pessoa capaz de mudar o mundo, alguém cujo nome ficara gravado para sempre nos registros histórico.
Mas isso não faz dele alguém que orgulhe a humanidade.
Isso não faz dele alguém que possa ser lembrado como herói ou alguém cujos princípios devem ser seguidos.

De onde tirou isso, biscoitinho de gengibre?


De um livro de história, vovó.


Hitler não fora um homem bom definitivamente pertencia ao pior tipo de gente que podia existir. Fora tão mal...Tão cruel e sem escrúpulos.

Vovó, por que alguém como ele é lembrado até hoje?




Isso acontece porque ele causou um grande dano ao mundo, foi um líder revolucionário e maldoso.


É por isso que ele é lembrado? Quero dizer... por ter causado a segunda grande guerra?


Sim.


Ele ficou quieto por um instante. Pensando.

Vovó, por que as desgraças passadas são tão lembradas? Não seria melhor se dessem mais ênfase ao que aconteceu de bom no passado do que ao que foi ruim?


Aquilo era verdade... Parecia até que os homens gostavam de relembrar os sofrimentos antigos.

Acho que você tem razão, meu anjo.


Passou-se mais algum tempo.

O que aconteceu com Hitler no final?


Ele se matou, meu bem.


Afinal não fora tão incrível assim, não passara de um covarde que não admitia a derrota. Mesmo assim, fora capaz de conquistar e manipular uma nação inteira apenas com seu dom de retórica. Seus discursos, suas palavras...
As palavras... Tão maravilhosas eram as palavras! Tão terríveis eram as palavras! Tão mágicas eram as palavras!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

As coisas pequenas

Era manhã, o sol ainda não atingira seu pico. A avó preparava a refeição predileta de seu garotinho. Um caldo de feijão com tempero especial.
Era um caldo com aroma de paz.
Aroma de avó.
Aroma de carinho.
Aroma de amor.
Aroma de férias de inverno.

Vovó, já reparou nas coisas pequenas?

Como assim, querido?

Aquelas pequenas coisas que quase sempre esquecemos que existem, mas que sempre estão ali.

Aquelas coisinhas que apesar de parecerem insignificantes trazem um toque mágico à vida?

Elas mesmas.

Que tipo de coisas são essas?

Recados perdidos
Lembretes esquecidos
Aquelas folinhas de papel onde os amigos anotam coisas bobas que deixamos no bolso da calça

E a velha acompanha o garoto em prosa.

Já reparou na cor das cerejas?
Como são belas e vermelhas?
Seu sabor é tão gracioso e como combina com sorvete e chantili!

O aroma das flores
Seus deslumbrantes perfumes
A harmonia das formas que trás a magia da natureza como sendo algo divino

O pôr do sol e seu nascer
O crepúsculo e o amanhecer
O céu é a pura magnificência: o azul salpicado de nuvens de dia e o manto escuro iluminado por estrelas e luares de noite

Neto e avó se entendiam. Eram apenas coisas pequenas, coisinhas sem grande importância. Mas eram coisas preciosas, cada qual com seu valor.
O delicioso caldo de feijão com aroma de férias de inverno estava quase pronto. Tão precioso em sua simplicidade...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Somos tão sortudos e nem nos tocamos...



O tempo... o que seríamos sem o tempo?
Acho que só por estarmos aqui hoje já somos sobreviventes.
Sobreviventes sim, sobreviventes do tempo.
Já pensaram que nossa existência já tenha sido ameaçada pelo passado?
Somos frutos da história, não somos?
Talvez nem estivéssemos aqui hoje se o papel não tivesse sido inventado.
E talvez a própria humanidade tivesse deixado de existir se a Guerra Fria tivesse deixado de ser apenas um conflito ideológico para se tornar uma disputa nuclear.

O passado...
Que maravilha é o passado!
Se fomos capazes de sobrevivermos a ele, seria melhor não desperdiçar essa sorte com detalhes tão fúteis e insignificantes.