sábado, 22 de junho de 2013

Volta à Ditadura?

    Quando esse tópico aparece eu me lembro imediatamente daquele filme: "A Onda". A história ocorre em uma escola alemã onde um professor (não me lembro se de história, sociologia ou algo do tipo) vai dar aos alunos um curso sobre os regimes políticos de extrema direita, e a primeira pergunta da primeira aula é a seguinte:

"Vocês acham que os alemães deixariam que algo como o nazismo ocorresse novamente?" (aos fãs que saber todas as frases decor: perdoem-se se esta não estiver 100% fiel, o que importa é a mensagem)

   Pergunto o mesmo ao leitor sobre o povo brasileiro. Seria possível uma nova ditadura militar? Reflita sobre isso.
   Acontece que, no filme, o professor simula essa realidade dentro da sala de aula, estipula uniformes, um nome para o movimento, uma saudação. Óbvio que a resposta dos alunos àquela pergunta havia sido um unânime "É claro que não", mas eles mal percebem que entram de cabeça nessa pequena realidade simulada e tornam-se verdadeiros ativistas de extrema direita que saem durante a noite para pichar muros com o logo por eles adotado.
   A paixão pelo movimento foge ao controle do professor, que quando percebe, é o líder de uma legião de jovens muito maior do que a sala de aula para quem aplica o curso. Ele tenta mostrar a todos ali o que acabou de acontecer, como aquilo poderia evoluir para um novo nazismo. Finge estar disposto a dar um golpe e de repente ordena que matem um dos que discordou com ele.
   Todos se assustam. De repente se tocam sobre no que estão envolvidos.
   O professor então vê a oportunidade de explicar o que aconteceu, como todos ali tinham sido atraídos por aquele maravilhoso sentimento coletivo de "fazer parte de algo maior" e pararam de enxergar aquilo como algo que já havia acontecido anteriormente.

Repito a pergunta: "O povo brasileiro deixaria que a ditadura retornasse?"

   Ainda hoje vemos pessoas que dizem que os tempos da ditadura eram os melhores, os mais tranquilos.
   Sim, são tranquilos porque ninguém pode questionar, ninguém pode propor algo novo. Qualquer agitação com intuito político diferente da ideologia em vigor é rapidamente reprimida e todos voltam a suas rotinas tranquilas logo em seguida.
   A ditadura não é uma guerra civil, é uma paz imposta. Veja bem: imposta.

   Vivemos um momento da história brasileira. Nossos filhos e netos estudarão isso em seus livros de história e poderemos dizer a eles: "eu estava lá".
   Mas em que pé vai estar o Brasil quando dissermos isso? Que regime vai estar em vigor quando nossos filhos e netos estiverem estudando para a prova de história? Será que poderemos ajudá-los e dizer que a apostila está correta? Ou teremos que dizer que o professor mentiu? Que o texto é unilateral? Que foi censurado?

   É tempo de ter cuidado. É uma democracia que queremos, efetivamente? Nesse caso, deve-se lutar por ele e ficar atento. A qualquer momento pode aparecer um novo órgão (seja ele um partido, um líder, uma instituição militar ou religiosa, qualquer coisa) que diz "estar do lado do povo" e aplicar um novo golpe.
   Cabe ao povo, portanto, apoiá-lo ou não. Sem apoio popular essas coisas dificilmente vão para frente.
   Às vezes, no entanto, a simples comodidade e aceitação já é o suficiente.

"Quem cala consente", não é o que dizem?

   O Regime Militar só acabou quando o povo foi às ruas pedir pelo seu fim. A tarifa do ônibus só baixou quando o povo foi às ruas pedir que baixasse.
   O SUS, a educação básica pública de qualidade só vão funcionar quando o povo for às ruas exigi-las.

   Mas falamos aqui sobre democracia, certo? Concordo que as pessoas não podem sair por aí se metendo a entrar em manifestações para divulgar coisas diferente do que aquela manifestação propõe. Mas tão pouco é certo (e nem um pouco democrático) que os demais manifestantes agridam tais pessoas.
   É um assunto delicado. "Não à agressão" e "Sim à democracia" são dois lemas que vão diretamente contra o linchamento de discordantes.

   Está tudo uma bagunça, mas não podemos esperar que esteja tudo sempre em ordem, isso porque somos diversos, com opiniões diversas.
   Se é a democracia que queremos, é ela que devemos praticar. É a maioria que comanda, sim, mas sempre pautada no pensamento: "Não concordo com uma palavra do que diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la".

   Por fim. É possível sim que voltemos à ditadura. Afinal, uma das coisas próprias do ser humano é odiar ser contrariado, e ninguém pode te contrariar se estivermos em uma ditadura. Mas se concordarmos que a democracia é mais justa, se a maioria optar por ela e lutar por ela, é ela que vai prevalecer.

Mas veja bem: "lutar por ela", afinal, "quem cala, consente".