terça-feira, 24 de novembro de 2009

Suicida

Às vezes quero sumir
Simplesmente desaparecer

Às vezes quero que me notem
Simplesmente que me olhem

Às vezes me sinto desintegrar
Como se aos poucos fosse sendo deixada de lado

Às vezes penso bobagens reais
Uma paranóia louca e constante sobre minha cabeça

Às vezes não vejo o mundo
Penso que seria melhor se ele não existisse


Às vezes não vejo a mim mesma
Penso que podia ser feita de linhas de cetim cor de rosa que fossem puxadas para que eu me tornasse um monte de sujeira sem serventia e pudesse assim fugir de mim mesma

O Novo Papai

O novo papai...
O novo papai é bom
Na verdade, é ele que assumiu o lugar de homem da case desde que meu verdadeiro pai morreu...
Sabe, o novo papai tem um monte de qualidades... eu acho
Ele é...
Ele é divertido, bem humorado...
É veterinário, adora os animais
E a mamãe ama muito ele
Os dois vivem se abraçando e se beijando, na verdade isso é muito bom, porque ela estava muito sozinha desde a morte do papai de verdade
Mas ela conheceu o novo papai
Eles se apaixonaram e se casaram
E agora é ele que nos protege e que cuida das despesas...
E ele também gosta de mim. Ele gosta muito de mim...
Talvez até demais...
Eu me lembro de algo que quero muito esquecer...
Me lembro da primeira vez em que fomos mais do que padrasto e entiada
Quero esquecer...
Quero esquecer a primeira e todas as outras vezes
Queria poder contar para mamãe
Mas ela gosta tanto dele... Ela realmente o ama!
Se eu contasse ela não acreditaria
Eu sei que ela prefere a ele do que a mim...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Um feixe de esperança na escuridão





Depois do maravilhoso caldo de feijão, os dois gozavam da última tarde que passariam juntos.
Ela o empurrava no velho balanço do jardim.
De súbito, ele falou:

Vovó, eu queria ser o dono do mundo.

Por que, meu bem? Você por acaso acha bom imperar sobre os outros como um rei tirano?

Claro que não, pelo contrário. Se eu fosse o dono do mundo, eu iria lutar pela igualdade.
Não haveria mais classes sociais.
Todos teriam as mesmas posses e direitos.
E não pense que eu implantaria um governo comunista, nem a perfeita teoria socialista de Karl Marx.
Muito mais do que isso. Eu iria tirar o dinheiro da face da terra.
Eu o baniria daqui porque é justamente ele o responsável por tudo.
Para começar, se não houvesse riqueza, não haveria pobreza. Muito menos miséria e fome.
Não haveria disputa de poder, já que o poder também é medido pelo dinheiro.
Então não haveria mais poder.
Por isso não haveria mais guerras ou violência, elas não fariam sentido sem o poder.
As drogas, as armas, o tráfego. Eles acabariam, pois não existiria a necessidade de vendê-los.
Os conflitos étnicos também não existiriam mais.
A necessidade de separar países acabaria, pois não haveria países, não haveria chefes de estado, não haveria o poder de um sobre outros.
Seria apenas uma grande comunidade mundial.
Isso se todos pudessem perceber os verdadeiros valores da vida, isso se cada um fizesse a sua parte, trabalhando não pelo dinheiro, mas pelo prazer de ajudar e de viver.
Todos seriam felizes.

A velha orgulhava-se daquele menino.

Isso é lindo, meu anjo. Mas é apenas uma utopia.

Utopia? Essa palavra está muito na moda, não acha? Se continuarmos achando que tudo o que é bom é uma utopia, nunca seremos capazes de concretizar o bem.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sempre comigo


Mas não era o meu lugar
   Não era a minha turma
      Não era a minha peça de teatro
         Não era o meu trabalho de um ano inteiro
A professora...
A professora que tanto admirei por tanto tempo...
Mas não era mais a minha professora

Eu estava ali, presente, ao lado deles
   Mas não era parte deles

Eu não tinha mais direito a nada
   Era apenas uma visita, afinal de contas

Há quanto tempo eu os havia deixado...

E aí eu voltei
Voltei para a minha nova vida
Voltei para o lugar que realmente era meu
Um novo lugar que me pertencia

E foi depois que voltei que percebi:

Esse também não era o meu lugar
Novamente, não era a minha turma
Não era ali que eu queria estar
Queria voltar, voltar para o velho
Queria que o velho ainda fosse realidade

Mas então eu entendi:
Não podia fazer nada a respeito
Só podia me conformar, aceitar e acostumar

Mas a minha família não estava no novo
A minha real família nunca havia sido o passado
A minha verdadeira família jamais deixara de existir
Ela apenas não estava presente, mas estava ali

Sempre comigo

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pura realidade


Vovó, existem bruxas?
Sim, querido, mas podemos espantá-las com bons pensamentos.

Vovó, existem dragões?
Sim, querido, mas podemos derrotá-los se formos corajosos.







Vovó, existem fadas?
Sim, querido, e são elas as responsáveis pelas estações e pelas cores da natureza.





Vovó, existem anões?
Sim, querido, eles vivem a fabricar os minerais no subsolo.









Vovó, existem ogros?
Sim, querido, mas podemos nos livrar deles com um pouco de pó de mico.










Vovó, existem elfos?
Sim, querido, e à noite podemos ouvir suas canções no vento.









 Vovó, existem  demônios?
Sim, querido, mas eles não se aproximam dos corações puros.

















Passa-se um tampo onde ela tricota em sua cadeira de balanço e ele come biscoitos de gengibre.

E ele volta a perguntar: 





Vovó, existe a guerra?

Ela reflete por um tempo e responde:

Não querido, a guerra é apenas o pesadelo depois de uma história triste.

domingo, 8 de novembro de 2009

Somente tudo... Simplesmente nada


Era uma vez,
Ele

Era ele, só ele

Ele o amado
Ele o que tinha tudo
Ele o querido
Ele o conhecido
Ele o adorado

Ele,
o filho único de um pequeno rei em um país distante

Ele o que não tinha nada
Ele o que pensava ter tudo

Criado em meio ao ouro
Em meio a festas
Em meio ao luxo e a riquezas

Vivendo um sonho em um paraíso


E o paraíso se torna o inferno


Pois não é o inferno irmão do luxo e da ganância?

Era ele, só ele
E ele perdeu tudo
Perdeu tudo para os outros

Perdeu o pai
Para que seu tio tomasse o trono

Perdeu a mãe
Para que os gananciosos tivessem o controle sobre ele

E perdeu a si mesmo
Para que não atrapalhasse os planos dos adultos

Foi para uma escola linda e distante

Cresceu
Amou
Foi amado

Construiu uma nova vida
Um novo universo para si mesmo

Tornou-se pai
E deu a seus filhos tudo o que tivera em sua infência

Ou seja: nada

Era o seu mundo perfeito,
Um novo paraíso



E o paraíso se torna o inferno



Sua esposa sente falta de carinho
Traiu-o
Morreu de desgosto

Sua filha rebela-se
Fugiu
Foi junto a um criminoso viver bem longe

Seu filho fica sem rumo
Abandonou-o
Suicidou-se enquanto bêbado


Ele perde tudo aquilo que nem mesmo tinha por completo


E ele não tem mais a si mesmo
Foi roubado pela morte
E já não tem uma vida

Onde estava na infância de seus filhos?
Onde escondeu o amor de sua amada?

Ele se preocupou em dar a eles um paraíso
Um sonho

Deu a eles tudo
Mas não os deu nada


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Motivo



A ordem existe
        E há sempre um motivo

Triste?
Não acho


O fim?
É só o começo

                O corvo voa

Voa feliz
Voa louvando a liberdade
Voa idolatrando o céu

                          O corvo admira

Admira o crepúsculo
Admira o céu estrelado
Admira o nascer do sol

                                       O corvo canta

Canta uma canção
Canta uma melodia
Canta uma nota

                                                    O corvo pousa

Pousa após voar
Pousa admirando a vida
Pousa cantando pela lua

                                                                   E então, o corvo grita


Grita seu último grito
Grita por sua dor
Grita nas garras de uma raposa

O fim?
É só o começo

Triste?
Não acho

A ordem existe
           E há sempre um motivo