quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Com quem fica a criança?

Você sabe como ela morreu?
Claro que sei, ligaram pra mim assim que aconteceu.
Ah, ligaram pra você também.
Você não tem toda essa exclusividade, sabia?
Um silêncio constrangedor se instalou por alguns instantes, até que o primeiro voltou a falar.
Vou sentir falta dela.
Eu também.
Você nem tem esse direito.
É claro que tenho.
Você é casado.
Isso não me impede de sentir saudades.
Eu não sei como... arg, vocês foram nojentos.
Você fala como se tivesse algum direito sobre a vida dela, sobre a minha.
Não tente negar que foram.
Não estou dizendo que foi certo, mas foi incontrolável. E lembre-se que eu não era casado naquela época. E nem você
Eu a amava naquela época!
Eu também!
Por sua culpa ela desistiu de mim.
Não se faça de vítima, você sabe que ela desistiu de mim também. Ela não saiu só da sua vida, saiu das nossas vidas.
Talvez tenha sido melhor assim.
Se fosse só ela eu concordaria com você.
Tinha esquecido desse detalhe...
Detalhe?! É uma criança!
Tá bom, tá bom, não é só um detalhe.
O outro apertou os olhos com os dedos. O primeiro continuou.
Acho que afinal de contas você sempre foi mais responsável do que eu. Desde sempre, desde que éramos pequenos.
O que faremos?
Deve ser por isso que ela me trocou por você. Ainda lembro dela me chamando de infantil... ela queria um cara maduro.
Ela te amou de verdade.
Não tanto quanto a você.
Você realmente guarda rancor por isso?
Você se casou, cara! Recomeçou sua vida e eu ainda estou aqui!
Está aí porque quer! Acha mesmo que eu deixei de amá-la fácil assim? Que a esqueci de uma hora pra outra? Claro que não, foi difícil.
Não tanto quanto pra mim.
Não vou discutir isso com você. O que quero saber é o que faremos com o menino.
Um teste de DNA não? É o mais lógico a ser feito.
Não sei se um teste de DNA funcionaria no nosso caso.
O que você propõe então?
Não sei... ela nunca disse nada... nunca deu uma pista...
E demorou para ficarmos sabendo, não é? quase cinco anos. Por falar nisso... mamãe sabe?
Silêncio.
Se sabe não foi por minha boca. Você sabe que ela ficou profundamente chateada com o nosso distanciamento. E nem sabe bem o motivo.
Não sei como isso foi acontecer, cara... 
No fundo foi tudo culpa dela.
Talvez.
Temos que ver com quem fica a criança.
Não há outros parentes?
Não creio que seja responsabilidade deles. Temos que resolver isso entre nós dois.
Está certo. Acho que... o melhor por enquanto é procurar um médico, certo?
Acho que sim. E buscar o garoto.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Meus Pêsames

A primeira coisa que fez ao receber a notícia foi trocar a aliança de dedo. Não se arrependeu de nada, não verteu lágrimas, não sentiu saudades. Seguiu, como sempre.

Não É Uma Questão De Centímetros

Não alcançou. Sentiu falta daqueles centímetros a mais que estavam tão distantes. Não admitiu, deu um jeito de alcançar sozinha, conseguiu e teve certeza de que era independente. Mas a satisfação não foi a mesma, não foi plena como costumava ser um dia. Ela não sentia falta apenas dos centímetros.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Amarela

















Uma lanterninha amarela, preciosa
Ao lado de uma gota de sangue
Como um anel de ouro que se perdeu
Tom de um caráter nobre que não se encontra mais

Tempo, espaço, vida, forma, cor
Todos interligados
Todos independentes
São tempos modernos,
Querem ser acompanhados
Seguidos
Por todos

E a lanterninha amarela ficou ali no canto esquecida
Pois ninguém mais nela repara
Em sua poesia
Não se vê mais a poesia em coisas pequenas como a lanterninha amarela
Não se vê mais poesia

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Essa Tal Saudade

Ai saudade essa que me ataca como um câncer
Tumor que, silencioso, corrói minha alma
Saudade que de inocente não tem nada
Não tem graça, não ter ar
Vira-o, ao contrário, quando dá o ar da graça
Fere as vontades de quem assalta
Impede sonhos, desejos
Mas de consolo serve à vítima
Saber que somente três possibilidades podem se dar:
Ou sofrerá eternamente com uma saudade crônica, câncer maligno que nunca matará
Ou terá a saudade uma cura, se esgotará quando não houver mais motivos para sentí-la
Ou doente e doença viverão em harmoniosa e turbulenta simbiose, podendo cultivar uma feroz amizade, dessas regadas pela incessante disputa
Posso dizer que hoje sofro dessa última
É uma paz equilibrista, repleta de paixão e ódio
Por vezes ela me aperta, me comprime as víceras sem piedade
Mas logo recua mansa, deixando-me esquecê-la por alguns instantes
Dá me um motivo para escrever, para me lembrar, e toma-me novamente os sentidos
Deixa-me tonta,
Triste pela dor, feliz pelas lembranças,
Triste pelas lembranças felizes
Feliz pela dor que me lembra de que
Em algum momento
Mesmo que por um curto tempo
O motivo da saudade a fará recuar
Nem que por um breve instante 

domingo, 22 de setembro de 2013

Sometimes

Sometimes I wish I could say to you how much you mean to me
Sometimes I wish I could respond your poetry with mine
Sometimes I wish I could stay there forever, listening you talk about those beautiful nonsenses


I just wish I could remember all of this to tell you next time we meet
But then I look at you


And sudenlly the hole night sky is condensed in one single spot
And I loose all my references, the ground, the breath
And I wish we never go away

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um Pedaço de Mim

É um pedaço de mim,
Que foge, vai embora
Depois volta manso
E demora

É um pedaço de mim
Que espero ver por um fulgaz instante
Depois de tanto tempo distante
Tempo tanto tempo todo tempo assim

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Carta à Selva de Pedra

Dearling

        Há tempos que venho querendo escrever-lhe, mas por falta de inspiração e tempo não tinha tido ainda a oportunidade. Ultimamente tenho sido perturbada por pensamentos que me remetem à realidade. Bem sabe você que me refugiei nesse lugar justamente para fugir dela, mas não posso mais ouvir a palavra "Brasília" sem me lembrar de você.
        Engraçado, acho que fazia anos que não ouvia o nome dessa cidade. Pensava nela às vezes, sentia saudades. Não tanto dela, é claro. Aqui é difícil ouvir falarem do Brasil, menos ainda na metrópole do planalto central, então não tenho sofirdo tanto com isso. Mas ontem ouvi. Bem assim, por cima, não sei se no televisor do bar ou de alguma das conversas aleatórias que se davam nas mesas ao redor. E me veio toda essa onde de emoções.
        A inspiração, por fim. E apesar de continuar sem tempo, sei tão bem quanto você que é necessário atender quando ela bate à porta, caso contrário ela se vai para nunca mais voltar.
        Estou fora de mim, como já deve ter notado, há anos que não escrevo uma carta, há anos que não escrevo, e, principalmente, há mais tempo ainda que não escrevo tão mal. Lembro-me das suas cartas, todas rebuscadas, detalhadas, pensadas, e então vejo a que escrevo agora, impulsiva, sem um rascunho anterior, sedenta de estravazar o que vem sendo reprimido há tanto tempo.
        Só sei que quando ouvi... "Brasília", perdida no meio de uma frase, talvez o noticiário, talvez um plano de férias, talvez assuntos políticos. Tão perdida quanto eu quando cheguei aqui, sozinha, tremendamente arrependida. Mas veja que o arrependimento durou pouco, logo arranjei um emprego, conheci pessoas... e a vida nunca foi tão divertida.
        Mas ao ouvi-la senti falta das nossas diversões. Vim para casa.
        Estou com suas cartas em cima da mesa. Não me pergunte por que as guardei, mas saiba que as tenho todas. Creio que no fundo mesmo eu nunca quis ir embora, mas você conhece bem todos os motivos que me fizeram partir. Só quero te lembrar que você foi o último deles.
        Escrevo porque sinto sua falta. Não sei se é a idade que avança e nos faz de repente lembrar do passado... aliás, é seu aniversário, não é? Hoje. Acho que essa carta não vai chegar a tempo, certo? Talvez eu não chegue a tempo... Não, esqueça essa última parte, não creio que eu ainda volte. Mas eu... bem, queria poder arrancar-lhe suspiros agora.
        Não me leve a mal, deve ser o gim... ou o champagne, ou a cerveja. E faz tempo que não escrevo, só tenho cantado ultimamente.
        Sinto saudades de você debaixo do meu cobertor... das suas mãos quentes a me amparar, abraçar, tocar. Da sua voz doce a dizer que me ama, da sua voz, como ela é, a dizer o que quer que seja.
Quem sabe um dia... É difícil para mim, você sabe, tenho uma vida inteira aqui. Se bem que você também tem a sua aí. Sinceramente, não sei porque insisto em nossas lembranças, sei que você já deve ter conhecido outras mulheres por aí, eu também tive casos por aqui, motivos suficientes para esquecer. Mas não esqueci, e hoje tive certeza de que jamais esqueceria.
        Nunca te mandei meu endereço para não correr o risco de receber uma carta que fizesse o arrependimento voltar. Agora percebo que nunca precisei de uma carta para tê-lo. Ele sempre esteve lá, mas eu o escondi de mim mesma.
        "Brasília"... a primeira vez em anos. E foi o suficiente para fazê-lo vir a tona.
Oh, god, o que estou fazendo da minha vida... sorry, I shouldn't bem piecing you off with this. Who knows... maybe I should go back.
        No, não... ah, me desculpe pelo inglês, é que eu... é a força do hábito. Acho que está na hora de parar, minha cabeça está começando a doer. Se você receber esta carta há duas possibilidades: ou eu vou ter acordado sóbria amanhã e considerado que não seria assim tão arriscado enviá-la; ou em algum momento de pouca lucidez, sóbria ou não, eu decidi... como se diz... take a chance.
Nossas noites costumavam ser quentes, torça para que em algum desses momentos de pouca lucidez eu decida voltar. Aí quem sabe poderemos tê-las uma vez mais.



Saudades eternas,
Não mais sua, mas para sempre sua,
E.
Las Vegas, 1957

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sou

Entre muitas outras coisas, ouso dizer que sou apaixonada por você
Criei a teoria de que, depois de certo tempo, as pessoas deixam de estar apaixonadas
Estar indica estado atual, temporário
Mas eu, eu sou, do verbo ser, indica permanência, é inato, inerente
Estar faz parte do passado, já estive, agora sou

Ser, qualidade adquirida que fará sempre parte da personalidade de quem a tem
Ser apaixonada por você faz parte de mim agora
Foi absorvido, incorporado
Agora não pode mais deixar de ser
Sou, do verbo ser

domingo, 1 de setembro de 2013

The Sparrow

There was this little blue-eyed bird
Flying on the blue sky
Searching
They say the world stops when the sparow sings
But this one didn't for a long time
He's looking for a safe place
A place where he'll bild his home
He sees a tree
Not the tallest, not the srtongest
But the one among all
He choses her
And when he finally lands
He sings
And his song is the most beautiful in the world

sábado, 22 de junho de 2013

Volta à Ditadura?

    Quando esse tópico aparece eu me lembro imediatamente daquele filme: "A Onda". A história ocorre em uma escola alemã onde um professor (não me lembro se de história, sociologia ou algo do tipo) vai dar aos alunos um curso sobre os regimes políticos de extrema direita, e a primeira pergunta da primeira aula é a seguinte:

"Vocês acham que os alemães deixariam que algo como o nazismo ocorresse novamente?" (aos fãs que saber todas as frases decor: perdoem-se se esta não estiver 100% fiel, o que importa é a mensagem)

   Pergunto o mesmo ao leitor sobre o povo brasileiro. Seria possível uma nova ditadura militar? Reflita sobre isso.
   Acontece que, no filme, o professor simula essa realidade dentro da sala de aula, estipula uniformes, um nome para o movimento, uma saudação. Óbvio que a resposta dos alunos àquela pergunta havia sido um unânime "É claro que não", mas eles mal percebem que entram de cabeça nessa pequena realidade simulada e tornam-se verdadeiros ativistas de extrema direita que saem durante a noite para pichar muros com o logo por eles adotado.
   A paixão pelo movimento foge ao controle do professor, que quando percebe, é o líder de uma legião de jovens muito maior do que a sala de aula para quem aplica o curso. Ele tenta mostrar a todos ali o que acabou de acontecer, como aquilo poderia evoluir para um novo nazismo. Finge estar disposto a dar um golpe e de repente ordena que matem um dos que discordou com ele.
   Todos se assustam. De repente se tocam sobre no que estão envolvidos.
   O professor então vê a oportunidade de explicar o que aconteceu, como todos ali tinham sido atraídos por aquele maravilhoso sentimento coletivo de "fazer parte de algo maior" e pararam de enxergar aquilo como algo que já havia acontecido anteriormente.

Repito a pergunta: "O povo brasileiro deixaria que a ditadura retornasse?"

   Ainda hoje vemos pessoas que dizem que os tempos da ditadura eram os melhores, os mais tranquilos.
   Sim, são tranquilos porque ninguém pode questionar, ninguém pode propor algo novo. Qualquer agitação com intuito político diferente da ideologia em vigor é rapidamente reprimida e todos voltam a suas rotinas tranquilas logo em seguida.
   A ditadura não é uma guerra civil, é uma paz imposta. Veja bem: imposta.

   Vivemos um momento da história brasileira. Nossos filhos e netos estudarão isso em seus livros de história e poderemos dizer a eles: "eu estava lá".
   Mas em que pé vai estar o Brasil quando dissermos isso? Que regime vai estar em vigor quando nossos filhos e netos estiverem estudando para a prova de história? Será que poderemos ajudá-los e dizer que a apostila está correta? Ou teremos que dizer que o professor mentiu? Que o texto é unilateral? Que foi censurado?

   É tempo de ter cuidado. É uma democracia que queremos, efetivamente? Nesse caso, deve-se lutar por ele e ficar atento. A qualquer momento pode aparecer um novo órgão (seja ele um partido, um líder, uma instituição militar ou religiosa, qualquer coisa) que diz "estar do lado do povo" e aplicar um novo golpe.
   Cabe ao povo, portanto, apoiá-lo ou não. Sem apoio popular essas coisas dificilmente vão para frente.
   Às vezes, no entanto, a simples comodidade e aceitação já é o suficiente.

"Quem cala consente", não é o que dizem?

   O Regime Militar só acabou quando o povo foi às ruas pedir pelo seu fim. A tarifa do ônibus só baixou quando o povo foi às ruas pedir que baixasse.
   O SUS, a educação básica pública de qualidade só vão funcionar quando o povo for às ruas exigi-las.

   Mas falamos aqui sobre democracia, certo? Concordo que as pessoas não podem sair por aí se metendo a entrar em manifestações para divulgar coisas diferente do que aquela manifestação propõe. Mas tão pouco é certo (e nem um pouco democrático) que os demais manifestantes agridam tais pessoas.
   É um assunto delicado. "Não à agressão" e "Sim à democracia" são dois lemas que vão diretamente contra o linchamento de discordantes.

   Está tudo uma bagunça, mas não podemos esperar que esteja tudo sempre em ordem, isso porque somos diversos, com opiniões diversas.
   Se é a democracia que queremos, é ela que devemos praticar. É a maioria que comanda, sim, mas sempre pautada no pensamento: "Não concordo com uma palavra do que diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la".

   Por fim. É possível sim que voltemos à ditadura. Afinal, uma das coisas próprias do ser humano é odiar ser contrariado, e ninguém pode te contrariar se estivermos em uma ditadura. Mas se concordarmos que a democracia é mais justa, se a maioria optar por ela e lutar por ela, é ela que vai prevalecer.

Mas veja bem: "lutar por ela", afinal, "quem cala, consente".

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Estranho Objeto Mágico

Aos sete anos de idade, ela estendeu os estranho objeto retangular para a mãe e perguntou:
"O que é isso mamãe?"
A mãe sorriu e respondeu docemente:
"Isso, meu bem, é para usar na cabeça"
"Como?"
"Você deve colocá-lo na cabeça e equilibrá-lo, não pode deixar cair"
"Posso tentar?"
"Mas é claro que sim"
E com todo o amor do mundo, a mãe ensinou a menina a endireitar a coluna e a cabeça para que o objeto pesado e retangular ficasse equilibrado sobre sua cabeça. Primeiro com a garotinha parada, depois com ela andando.
Pouco a pouco, a menina foi dominando a arte de andar com a postura correta. Ano após ano ela foi aprendendo a prática dos bons costumes e da etiqueta.
Com carinho, sua mãe ia-lhe ensinando tudo o que uma jovem moça nascida em berço de ouro deveria saber para ser respeitada e amada por todos.
Até que um dia...
Aos catorze anos de idade ela deixou o objeto cair.
Havia muito tempo ela não praticava mais aquele exercício de equilíbrio. No começo, já havia deixado o retângulo cair diversas vezes, mas sua mãe sempre estava ali para pegá-lo rapidamente e devolvê-lo em sua cabeça.
Dessa vez não.
Depois de tantos anos ela havia visto novamente o estranho objeto e pensou em repetir a prática uma vez mais, por pura nostalgia ou no intento de checar se ainda andava como devia andar.
E para sua surpresa, o objeto se abriu ao tocar o chão. E pela primeira vez, ao erguê-lo novamente, ela percebeu que ele não era uma massa sólida, mas sim algo composto por diversas folhas de papel que juntas formavam aquele pequeno tijolo.
Ela identificou letras gravadas naquelas páginas, e leu.
Nunca mais foi a mesma desde então, aquele estranho objeto nela despertou a magia do saber, do conhecer, da vontade de compartilhar com todos aquilo que ela podia ensinar.
E foi mais amada e mais respeitada do que jamais seria se não tivesse deixado cair aquele estranho objeto mágico.