segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Limões

Foi assim que ele me convenceu a vender limões.
Quer dizer: distribuí-los.
- O que? Você quer mesmo...?
- É claro que sim!
- Mas... de onde tirou essa ideia?
- É uma experiência sociológica, vamos, vai ser legal.
Eu dei risada, pensei um pouco.
É, talvez fosse legal. Talvez.
- O que você quer provar?
- Quem disse que quero provar algo? Só quero ver a reação das pessoas. Vai ser divertido.
Parecia interessante. Era o tipo de coisa que todo mundo têm vontade de fazer, mas quase ninguém faz.
Eu, inclusive.
Ah, essas coisas loucas! Adoro as coisas loucas, sempre adorei. E estava na hora de um ato um pouco desajustado, fazia tempo que eu não fazia nada desajustado.
Como daquela vez em que eu subi em uma fonte no meio de uma praça e gritei que era dona do mundo para uma avenida de carros insensíveis.
Bom, aquilo já fazia um bom tempo. Já era hora de construir novas lembranças sobre atos malucos.
- Então... de quantos limões vamos precisar?
- Uns dez.
- Está certo então.
- E vamos precisar de papel e caneta.
- Pra quê? Vamos escrever "vende-se limões"?
- Não, vamos escrever "VIDA" e colar em nossas camisetas.
Só naquele momento eu realmente percebi o que ele queria fazer. E aí eu entendi porquê ia ser tão legal.
E lá fomos nós vender limões.

"Vender não!" ele dizia bravo. "Vamos doar limões". Mas não adiantava, eu estava com o verbo "vender" na cabeça. Por quê? Porque algum dia li em algum lugar algo sobre "vender sonhos", um ato sem remuneração mas que se autodenominava como uma venda, e era exatamente o que estávamos fazendo. O limão era uma metáfora para o sonho, ou, melhor se encaixando no ditado: para a oportunidade.
E acabamos com os dez limões em dez minutos.
Certo então, tínhamos terminado. Então nos sentamos e ficamos observando o céu, lembrando daqueles estranhos personagens que tinham aceitado nosso estranho presente. Alguma expressão triste que de repente se transformou num sorriso, alguém que queria fazer uma caipirinha, alguém que realmente não esperava por isso e que, chegando em casa com certeza diria a alguém: "a vida hoje me deu um limão", "onde?", "no semáforo".
- Sabe o que eu acho? - perguntei.
- O que?
- Que nós mesmos somos limões.
- Ah é?
- É. Tenho certeza, eu devo ser um limão na sua vida, não?
- Depende do ponto de vista.
- Pois é.
- Eu sou um na sua?
- Depende do ponto de vista.
Ele sorriu com minha resposta.
- Bem - concluiu. - De qualquer forma, o bom de tudo isso é que podemos escolher o melhor modo de usar cada limão que recebemos.
Sorri.
- Também acho. E por enquanto, acho que estou sabendo aproveitar muito bem o meu.